Electricidade sem concorrência em 2008

Ainda não deverá ser em 2008 que haverá concorrência no mercado eléctrico para os clientes domésticos. Pelo menos foi esse o sinal deixado ontem pelos potenciais competidores da EDP durante o Fórum da Energia promovido pelo Diário Económico, um dia depois da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) ter anunciado uma subida das tarifas de 2,9% para 2008, abaixo das expectativas. Galp, Unión Fenosa, Endesa e Iberdrola foram claras quanto à inexistência de condições no mercado eléctrico português para avançar com novas ofertas ou reforçar as já existentes para o segmento empresarial. O baixo nível das tarifas reguladas e a insuficiente capacidade de interligação de Espanha são os argumentos dos potenciais concorrentes da EDP que só deverão avançar quando tiverem produção própria em Portugal. Ou seja, a partir de 2009, quando estiverem a operar as primeiras centrais a gás.

Depois de ter anunciado, na apresentação dos resultados semestrais, o objectivo de entrar no mercado de venda final de electricidade em 2008, o presidente da Galp Energia veio ontem dizer que, afinal, não entrará nesta actividade enquanto não tiver produção própria. Ferreira de Oliveira tinha revelado em Agosto a intenção de comprar energia a terceiros, através de leilões de capacidade, em Portugal ou Espanha, para a venda. Ontem realçou que não existe um mercado grossista que permita abastecer o retalhista (consumidor final). No último leilão, a REN só vendeu um terço da energia porque o preço era alto. Por outro lado, não há entre Portugal e Espanha interligações físicas suficientes para haver concorrência. A Galp só vai comercializar electricidade "quando existirem condições para operar sem perder dinheiro" e quando for possível ter uma oferta integrada da produção à venda.

E foi de prejuízos que falou o administrador da Unión Fenosa, Luis Díaz Lopez. Apesar de "estar para ficar" no mercado português, a eléctrica galega diz que as comercializadoras, onde se inclui a EDP e a Endesa, perderam entre Julho e Setembro 18 milhões de euros, por não conseguirem aceder à energia mais barata, do lado espanhol, para abastecer os seus clientes em Portugal. Para além das tarifas a clientes finais, Díaz Lopez queixa-se das elevadas tarifas de acesso às redes de distribuição, que servem as pequenas e médias empresas, e que diz "são 80% superiores às de Espanha".

O presidente da Iberdrola Portugal, Pina Moura, insistiu que enquanto a escassez da oferta e distribuição não se reflectir nas tarifas - que por imperativos políticos não cobrem os custos da energia - continuará a haver distorções na eficiência e no mercado. Já o presidente da Endesa Portugal, que na semana passada tinha ameaçado abandonar o mercado de venda nacional, diz que a eléctrica vai manter a estratégia para Portugal, apesar de ter novos accionistas. "Mas é preciso que nos deixem actuar". Aos jornalistas, Nuno Ribeiro da Silva, não quis falar da proposta de aumento da electricidade: "o ministro da Economia não quer que as empresas espanholas falem das tarifas portuguesas". Não deixou contudo de comentar, ironicamente, as contas da ERSE sobre a subida de um euro, ou duas bicas por mês na factura mensal, dizendo que são "bicas fiadas", ou seja, vão custar mais a prazo.

Fonte: DN Online

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