Chuva trava subida da electricidade em 2009


Não há razão para alarme. Pelo contrário. A forte chuva dos últimos dias ajudaram a anular o diferencial no nível de reservas de água nas barragens face à média histórica para esta época do ano. Os beneficiados vão ser os consumidores de electricidade, uma vez que o recurso às centrais hídricas para a produção de electricidade é mais barato do que a produção a gás ou carvão, o que ajudará a travar a subida de preço da electricidade.

A EDP é dona de quase 85% do parque electroprodutor nacional, estimado em 10.400 MW, o grupo liderado por António Mexia conta com 4.578 MW repartidos por 35 barragens. As restantes centrais termoeléctricas recorrem ao carvão, fuel, gasóleo e gás natural para gerar electricidade. Matérias-primas de origem fóssil, importadas, com forte impacto nos custos de produção e, por inerência, nas tarifas do consumidor final.
A EDP, curiosamente, não pode pôr a diferença ao bolso, uma vez que tem a quase totalidade da produção hídrica comprometida por contratos de longo prazo em que apenas garante uma margem de lucro pré-determinada. Se a produção é conseguida a preço mais baixo, os ganhos vão para os consumidores. Em períodos de seca, o bolso do consumidor acaba por se ressentir. Sobretudo as empresas e, em particular, a grande indústria.

Segundo dados da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, o peso da energia e do fornecimento na factura dos clientes de alta tensão e muito alta tensão situa-se acima dos 70%. Já nos consumidores domésticos é de apenas 46%.
Os primeiros, como necessitam de mais potência, estão por norma localizados nas proximidades das redes de alta tensão. Usam menos esta infra-estrutura, mas estão mais expostos à evolução do preço da energia. Já a electricidade para chegar à casa dos pequenos clientes tem de fazer um percurso maior, apesar dos custos de produção serem os mesmos. Onde está então a diferença? No papel do regulador que interfere especialmente na fixação das tarifas da rede.

O real impacto do aumento da pluviosidade nas últimas semanas é, no entanto, difícil de medir. Sendo a tarifa aditiva, na prática significa que depende de um somatório de vários factores, como o uso geral do sistema ou os chamados custos de interesse económico, onde se incluem os encargos com as renováveis ou a convergência tarifária com as regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Inequívoco, é que, até 15 Abril último, o nível médio de reserva de águas nas centrais hidroeléctricas da EDP era de 50%. A média histórica para este período do ano situa-se no 60%. O mesmo não se passava no início do ano. Entre Setembro de 2007 e Fevereiro passado, choveu no país menos de metade, 48%, da média entre 19441 e 1998. E, embora as barragens ainda tivesse água suficiente, os sinais de alarme estavam activados.

Barragens EDP

1- Como se gere uma barragem

São dois, os tipos de centrais hidroeléctricas clássicas em Portugal. As fio de água, que permitem o armazenamento, e as albufeiras. As primeiras estão localizadas sobretudo no Douro. Como não permitem reter as águas, são umas das principais responsáveis pelas cheias na região. A escolha de quem injecta, ou não, energia na rede cabe à REN. A gestora da infra-estrutura de transporte tem o mapa das necessidades nacionais, bem como o acesso à formação dos caudais das diversas barragens e níveis de albufeira.


2 - Quais as maiores barragens da EDP
O parque hidroeléctrico da EDP está situado sobretudo no Norte e Centro do País, com excepção do Alqueva. No total, o grupo controla 35 barragens, o que lhe garante o monopólio da grande produção hídrica. As centrais mais expressivas são o Alto Lindoso, com 630 MW, seguida da Bemposta, com 240 MW, potência que será duplicada em breve. À lista junta-se ainda a barragem da Aguieira, com 336 MW.


Consumo de Água

1 - Quanta água gastam os portugueses
Anualmente, os portugueses gastam cerca de 8.800 milhões de metros cúbicos de água. O que não é suficiente para gastar toda a capacidade de armazenamento das albufeiras, que é da ordem dos 12 mil milhões de metros cúbicos. O valor dos gastos refere-se à água que sai dos leitos (captação em alta) e não àquela que chega às torneiras dos consumidores, depois de perdas difíceis de contabilizar.


2 - Total das reservas nacionais de água
As reservas naturais de água em Portugal estão estimadas em valores próximos dos 100 mil milhões de metros cúbicos – é essa a água subterrânea que se perspectiva existir no território nacional. Em termos mundiais, as águas subterrâneas representam apenas 29% da água potável. O grosso são gelos e neves (70%); os rios representam apenas 1%. A água potável no mundo é apenas 3% do total. Os restantes 97% são oceanos.


3 - Onde gastam os portugueses a água
Por muito surpreendente que possa parecer, o abastecimento urbano representa apenas 7% dos gastos de água dos portugueses. A maior parte da água gasta em Portugal segue para a agricultura (75%) e em muito menos escala para a indústria (4%). Refira-se ainda que 14% da água gasta anualmente tem por finalidade proceder ao arrefecimento dos centrais termoeléctricas. Esta repartição está em linha com os restantes países do Ocidente.


4 - Portugal poderá ter problemas de água
Para dados de 2005, Portugal está na fronteira da geografia onde não há problemas de água. Mas, a Sul do território, os problemas começam a surgir. E toda a bacia Sul do Mediterrâneo é uma das zonas de maior falta de água no mundo – muito pior que o centro de África ou a Oceânia. Mas uma resposta definitiva à questão referente a Portugal é praticamente impossível, dizem os técnicos, face às alterações recentes do clima.

Fonte: Diário Económico

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