Bem-vindo à Ecópole

A energia vem do Sol e do vento. A comida sai de fazendas orgânicas pertinho de casa. Quase ninguém tem carro. E são 500.000 habitantes. É como vai ser a primeira cidade ecológica do mundo, que está para sair do papel. Onde? Na hiperpoluída China






"O jornal disse que vai ser uma das maravilhas do mundo!", arriscou o jovem professor Zhang Li, de 28 anos, membro do Partido Comunista e morador de Chongming, ilha no delta do rio Yang Tse onde será construída Dongtan.

Chongming é o único lugar perto de Xangai onde a poluição das fábricas não consegue chegar. Ligada ao continente apenas por balsas, a ilha, do tamanho da cidade do Rio de Janeiro, é lar de 650.000 pessoas, na maioria camponeses.

RECEITA ECOLÓGICA

E o que faz de uma cidade uma ecocidade? Basicamente, seguir o caminho inverso de Xangai, Pequim, Shenzhen, Guangzhou, Chengdu e outras metrópoles chinesas. Ignorando a obsessão local em vencer a corrida pela construção da torre mais alta do mundo, a cidade verde terá prédios com 3 a 6 andares, que evitam o uso de elevadores e bombas-d'água, usando por isso menos energia.

Para ter o máximo de incidência solar no inverno e o mínimo no verão, os prédios serão projetados de acordo com a orientação do sol. Com uma circulação de ar correcta pela casa, que liberta o ar quente e recebe ar fresco, o ar-condicionado poderá ficar desligado por mais tempo no verão, enquanto materiais que absorvem o calor durante o dia e o libertam lentamente quando o sol se põe também diminuirão a necessidade de aquecimento no inverno. Os telhados terão cobertura vegetal, que contribui com o isolamento térmico. Com estas medidas, espera-se economizar 70% da energia utilizada em climatização.

Haverá ainda um sistema duplo de abastecimento de água, com tobagens para água potável e outras para não potável, que vai para descargas e irrigação de jardins. A colecta de esgoto também será selectiva. Os dejectos sem a água de descarga, conhecida como "água cinza", serão tratados separadamente da "água negra", que vem directa das casas de banho. Após tratada, a "água cinza" irá junto com a água dos canais para as tubagens de água não potável. O sistema deve diminuir o consumo de água à metade do de uma cidade comum e o volume de esgoto a menos de um sexto.

Quase nada se perde por lá: até 80% do lixo sólido será reciclado e os resíduos orgânicos, como sobras de comida e a "água negra", ou passarão a adubo ou irão para digestores mecânicos. O papel desses digestores é produzir um gás rico em metano a partir de restos de alimentos, o que é exactamente o que o nosso organismo faz. Esse gás irá servir de combustivel para os fogões e aquecedores residenciais.

Todos os alimentos de Dongtan, serão produzidos nas fazendas que separam os núcleos urbanos da cidade.

Com produtores do lado de casa, litros e litros de óleo diesel deixarão de ser consumidos no transporte de alimentos - e de fertilizantes, já que a idéia é montar fazendas orgânicas, que dispensam por completo produtos químicos na lavoura.

E não é só a comida que virá dos arredores da cidade: a energia eléctrica também vai ser produzida lá. Para atingir a meta de emissão zero de CO2, optou-se por muita energia eólica e solar. Também haverá centrais de biomassa, que produzirão energia queimando a palha das plantações de arroz. Estas centrais, sim, emitem CO2. Mas as próprias plantações de arroz orgânico que dão o combustível são sumidouros de CO2 enquanto crescem, anulando assim estas emissões.

Grandes hélices serão dispostas no leste da cidade, aproveitando os ventos do mar da China Oriental, assim como cata-ventos em miniatura no topo dos prédios. Dongtan procura ser ecológica até mesmo antes de estar pronta: quando possível, serão usados materiais e mão-de-obra locais, para reduzir o gasto com transporte; as construcções serão pré-fabricadas, para evitar desperdício de materiais no canteiro de obras, e os alojamentos dos trabalhadores serão ecologicamente sustentáveis. E, claro, a cidade será planeada de forma que poluentes não atinjam as reservas pantanosas.

Com o comércio local num bairro compacto, não será necessário pegar o carro nem para trabalhar nem para fazer compras. Sem carros, haverá menos poluição sonora; sem poluição sonora, não será necessário fechar a janela em dias mais quentes; de janelas abertas, não será necessário usar tanto ar-condicionado; sem ar-condicionado, será gasta menos energia elétrica, e, com a economia de energia, será cada vez menos necessário o uso de combustíveis fósseis. E, se Dongtan der certo, a China poderá dizer que seu crescimento é, sim, sustentável.

Contudo, na China é difícil separar verdade de propaganda, mas mesmo assim, só o que está no papel já serve de inspiração para outros governos. O Mayor de Londres, Ken Livingstone, foi a Xangai para conhecer melhor os planos da ecocidade. Ficou impressionado. E quer usá-los para criar um bairro com emissão zero de CO2 no subúrbio de Londres - uma amostra de que, se Dongtan vingar, aí é que não faltarão seguidores pelo mundo. Agora um pouco do nosso futuro depende do que acontecer neste pântano do outro lado do mundo, no nebuloso delta do Yang Tse.--> Ver noticia original

Fonte:
http://super.abril.com.br

0 comentários: